Uma tela escura embalada por uma trilha no último volume. Assim se revela "A Origem"(Inception, 2010) para o espectador. O novo filme de Christopher Nolan não traz à tona de forma tão explicita o suspense policial e os dramas obsessivos de seus últimos (ótimos) trabalhos. Nolan faz aqui mais um excelente exercício narrativo (marca registrada dos seus filmes como Amnésia, O Grande Truque e O Cavaleiro das Trevas), só que dessa vez mais interessado em tratar da força e vulnerabilidade dos sonhos do que angústias pessoais (ainda que estejam presentes no filme e de forma subliminar contribuindo com o todo). A trama sobre um grupo de especialistas em extrair idéias das pessoas durante o sono foge do lugar comum e arrisca-se em brincar com tantas questões pertinentes à sétima arte. Algo no qual se sai muito bem, a exploração do tempo através dos níveis de sonho que os personagens atravessam e a dualidade do real x imaginário permeiam toda a extensão da produção, sem cansar ou fazer com que o espectador se perca (demais) no desenrolar dos eventos. O elenco é afiado, uma verdadeira seleção de boas atrizes (Ellen Page, Marion Cotillard) e atores (Leonardo DiCaprio, Ken Watanabe, Michail Cane, Cillian Murphy, Joseph Gordon-Levitt) que fazem (todos) jus ao reconhecimento adquirido. Muitos desses, habituais colaboradores de Nolan, assim como o músico Hans Zimmer que com a colaboração do ex guitarrista do Smiths Johnny Marr entrega seu melhor trabalho na parceria com o diretor até então. Além deles, o diretor de fotografia Wally Pfister e o editor Lee Smith colaboram na habilidade de Nolan em fazer o que bem entende quando quer narrar uma história. Ainda por cima, "A Origem" traz algumas das cenas de ação mais criativas dos últimos anos - os fãs do gênero não terão do que reclamar aqui. Mas o que faz de "A Origem" um espetáculo é mesmo sua capacidade de não se render as artimanhas dos blockbusters de sempre - não há romances sem graça, não há vilões e heróis fáceis. Após sermos apresentados aos conceitos de compartilhamento de sonhos e extração de idéias o filme vai revelando seus mistérios e até a última cena segue em um ritmo impressionante de sucessões. O cinema sempre foi lembrado por sua possibilidade de fazer dos sonhos realidade. "A Origem" marca por transitar de forma elegante, quase como um desfile por esses dois extremos sem favorecer a um ou a outro, mas tornando a experiência memorável - seja pelo seu ritmo, pela sua ação, pelos pequenos detalhes (o peão deve se tornar a referência da obra) ou por perceber que o mistério do filme continuará na memória após ser encerrado por uma tela escura embalada por uma trilha no último volume.
Trailer
Excerto da apresentação da trilha - Hans Zimmer & Johnny Marr
1 comment:
O filme é incrível. Mas um show a parte é a trilha hipnótica de Hans Zimmer, simplesmente fabulosa.
Grande Post, parabéns.
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