Há uma infinidade de textos dedicados a discutir a realidade no cinema e separar o que é fato do que é ficção, em “Bastardos Inglórios”, Quentin Tarantino colabora adicionado mais volume e posicionamento na discussão. No filme que se passa no auge da II Guerra, as táticas e estratégias militares pedem licença a sétima arte antes de definir qualquer ação no campo militar. Em brilhante narrativa, críticos de cinema e astros das telas se revezam para delimitar os rumos da II Grande Guerra. No jogo de xadrez que lança sobre o tabuleiro o destino das tropas na Europa, nomes como Max Linder, David O. Selznick e Louis B. Mayer têm mais força que qualquer disparo no front de batalha. A história do filme acompanha um grupo de soldados (que dão título ao filme), uma judia (disfarçada) proprietária de um cinema na França e um cruel oficial do alto comando nazista. Todos em atuações impecáveis, cujo maior destaque vai para Christoph Waltz. O Ator austríaco ganhou quase todos os prêmios imagináveis pela sua caracterização do Coronel Hans Landa, que toma o filme para si logo nas primeiras cenas que parecem dilatar o tempo em um dialogo bilíngüe, tenso e angustiante. Muito interessante notar como Tarantino filmou seus últimos trabalhos (arrisco até a dizer que 'Bastardos' é seu melhor filme), se em “A Prova de Morte” havia uma forma de cinema perdido reclamando seu espaço, em “Bastardos Inglórios” há a sensação de se estar descobrindo uma dessas obras indevidamente ignoradas pelo cinema. A opção do diretor em apresentar o logo antigo da Universal ao inicio do filme situa a obra no passado, como se a mesma tivesse sido produzida e esquecida pela história, sendo tardiamente descoberta pela luz dos projetores. História que o próprio filme redefine sob a ótica da sétima arte e em seu templo mais que sublime: a sala de cinema. Na guerra sobre a separação de fato e ficção, cinema e realidade o posicionamento de um filme como Bastardos Inglórios em meio a tal fogo cruzado é bastante direto... Prevalece o cinema!
Uma tela escura embalada por uma trilha no último volume. Assim se revela "A Origem"(Inception, 2010) para o espectador. O novo filme de Christopher Nolan não traz à tona de forma tão explicita o suspense policial e os dramas obsessivos de seus últimos (ótimos) trabalhos. Nolan faz aqui mais um excelente exercício narrativo (marca registrada dos seus filmes como Amnésia, O Grande Truque e O Cavaleiro das Trevas), só que dessa vez mais interessado em tratar da força e vulnerabilidade dos sonhos do que angústias pessoais (ainda que estejam presentes no filme e de forma subliminar contribuindo com o todo). A trama sobre um grupo de especialistas em extrair idéias das pessoas durante o sono foge do lugar comum e arrisca-se em brincar com tantas questões pertinentes à sétima arte. Algo no qual se sai muito bem, a exploração do tempo através dos níveis de sonho que os personagens atravessam e a dualidade do real x imaginário permeiam toda a extensão da produção, sem cansar ou fazer com que o espectador se perca (demais) no desenrolar dos eventos. O elenco é afiado, uma verdadeira seleção de boas atrizes (Ellen Page, Marion Cotillard) e atores (Leonardo DiCaprio, Ken Watanabe, Michail Cane, Cillian Murphy, Joseph Gordon-Levitt) que fazem (todos) jus ao reconhecimento adquirido. Muitos desses, habituais colaboradores de Nolan, assim como o músico Hans Zimmer que com a colaboração do ex guitarrista do Smiths Johnny Marr entrega seu melhor trabalho na parceria com o diretor até então. Além deles, o diretor de fotografia Wally Pfister e o editor Lee Smith colaboram na habilidade de Nolan em fazer o que bem entende quando quer narrar uma história. Ainda por cima, "A Origem" traz algumas das cenas de ação mais criativas dos últimos anos - os fãs do gênero não terão do que reclamar aqui. Mas o que faz de "A Origem" um espetáculo é mesmo sua capacidade de não se render as artimanhas dos blockbusters de sempre - não há romances sem graça, não há vilões e heróis fáceis. Após sermos apresentados aos conceitos de compartilhamento de sonhos e extração de idéias o filme vai revelando seus mistérios e até a última cena segue em um ritmo impressionante de sucessões. O cinema sempre foi lembrado por sua possibilidade de fazer dos sonhos realidade. "A Origem" marca por transitar de forma elegante, quase como um desfile por esses dois extremos sem favorecer a um ou a outro, mas tornando a experiência memorável - seja pelo seu ritmo, pela sua ação, pelos pequenos detalhes (o peão deve se tornar a referência da obra) ou por perceber que o mistério do filme continuará na memória após ser encerrado por uma tela escura embalada por uma trilha no último volume.
Trailer
Excerto da apresentação da trilha - Hans Zimmer & Johnny Marr
Ela já esteve por aqui antes. Little Boots é uma artista que usou o ano de 2009 para capturar ouvidos. Mostrando muito apuro técnico em suas músicas, a cantora-tecladista emplacou um disco de estréia -Hands- quase que perfeito. O reconhecimento veio de imediato, alcançando boas critícas e sucesso de público. O fato é que Boots faz um ótimo mix de tecno + house + clubber com um sabor pop irresistível e - ainda sim - é simples e acessível, carismática e iventiva (sim, Boots opera - e muito bem - a parafernália de instrumentos eletro-exóticos de suas canções) e o que é mais importante - sabe se segurar apenas na sua música, embora conte com infraestrutura de peso (entre seus produtores está Joe Goddard do Hot Chip e tem distribuição de um grande selo, Warner). Seus vídeos são bem produzidos e suas apresentações ao vivo são - na falta de um adjetivo melhor - espetaculares!
Confira um pouco de Boots nos vídeos abaixo.
Gostou? Então acompanhe a apresentação ao vivo de boots com a música Stuck On Repeat!
Este belo exercicio de metalinguagem é um dos mais aclamados filmes de um dos pais da Nouvelle Vague, François Truffaut.
Há uma grande quantidade de títulos que se destinam a revelar ao público um pouco da arte de se fazer filmes - de "Cantando na Chuva" à "Oito e Meio" até obras mais recentes como "Ed Wood" e "Adaptação". Entretanto poucos são os que conseguem transmitir tamanho amor pelo cinema como A Noite Americana, que além de ser um filme dentro do filme se alimenta da própria sétima arte com referências (algo sempre presente na filmografia do Truffaut) que cercam toda a obra - em uma delas temos o espalhar de livros sobre Lubitsch, Hitchcock, Goddard, Bergman, Hawks e outros gênios ao som da bela trilha de Georges Delerue.
A Noite Americana faz uma interessante mistura entre um elenco composto por estrelas internacionais (Jacqueline Bisset) que compõem o fictício "A Chegada de Pamela" e membros da equipe técnica que interpretam os técnicos do mesmo filme.
Produzido no inicio dos anos 70 a obra ainda faz uma reflexão sobre "o cinema de autor" algo também marcante em Truffaut tanto na filmografia quanto em sua carreira de crítico da Cahiers du Cinema.
No entanto o que fica mesmo para o público é o belo (e divertido) retrato desse esforço em transformar sonhos em realidade, empreendidos incansavelmente por realizadores que na frente ou atrás das camêras conseguem fazer até o dia ser tão escuro quanto a noite ou a noite tão clara quanto o dia...
nt.: Noite Americana é uma técnica cinematográfica que consiste em filmar cenas noturnas à luz do dia com o uso de filtros especiais para diminuir a itensidade da luz.
Com este incrível sucesso, Enya deixou de ser uma artista conhecida apenas por ouvintes de música New Age para ver seu trabalho ganhar repercussão mundial.
Orinoco Flow é um daqueles raros momentos que transcendem toda a obra de um artista. Talvez a celébre citação "Navegar é Preciso" tenha encontrado aqui seu par perfeito, pois a canção nos passa o tempo todo um desejo apaixonante de aventurar-se, algo digno das grandes navegações empreendidas séculos atrás...
Tendo alcançado o topo das paradas em vários países e permanecendo por várias semanas no topo das rádios britânicas, Orinoco Flow tornou-se o primeiro grande hit da música erudita em dois feitos raros - transcender a opinião pública x opinião critica e transcender aos genêros musicais.
Não importa se o que se escuta nesse trabalho é New Age, World Music, Clássico ou Erudito - importa apenas apreciar a verdadeira epopéia de harpas, tambores, letras e vozes deste verdadeiro clássico moderno.
nt: Enya ainda encontrou espaço na letra para homenagear seus produtores na Inglaterra e Irlanda - Ross Cullum e Rob Dickens
Este documentário francês de 2002 ganhou o mundo a partir da seleção oficial do festival de Cannes. Narra o período letivo de uma turma de crianças de 3 a 12 anos no interior da França. Aprendendo muito mais que as disciplinas normalmente ensinadas nas grades curriculares, meninos e meninas são orientados por um professor em regime de dedicação exclusiva e integral que acompanha o desenvolvimento intelectual e humano de seus alunos para além dos limites da sala de aula. Respeitando a individualidade e o ritmo de desenvolvimento de cada pupilo, o professor (Georges Lopez) os conduz a adolescência de forma branda, mas carregada de razão, respeito, responsabilidade e muita sensibilidade. O diretor Nicolas Philibert consegue a proeza de registrar de forma única a ação e espontaneidade dos jovens em um registro poético, real, sentimental e absolutamente sincero da atividade educacional.